Antes de começar a escrever este post, que fique um aviso aos navegantes: eu nunca me senti atraída por Paris, nunca quis conhecer, nunca entendi o porquê de tanto encantamento. É, eu sei, pode soar como uma blasfêmia para alguns, mas acho que pode explicar um pouco este meu post, caso eu pareça azeda por vezes.
Mas sim, fomos conhecer a capital, porque achei que seria uma blasfêmia ainda maior dizer que fui pra França, fiquei a uma hora de Paris e não conhecer a bendita! E não me arrependi, mas não mudei muito de ideia.
Já ouvi muito francês dizer que Paris não é França, e que o parisiense não é francês. Isso porque Paris é uma das cidades mais visitadas por turistas do mundo e, ao que parece, deixa os turistas com uma imagem bastante deturpada do francês - vejam só, acham que os franceses são antipáticos ou rudes! Maior injustiça não há, os franceses são um povo muito querido.
Mas deixo claro que encontramos parisienses muito simpáticos! Encontramos também alguns enfezados, mas imagino que seja normal para quem se depara com turistas perdidos todo dia.
Mas sim, é verdade que Paris é bela. Um pouco turística demais para mim, mas sim, é bela.
Acabei ficando com uma boa memória de Paris - só que, por mais engraçado que pareça, não foi por causa da viagem: um dia depois da viagem, mostrei ao Edu
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que desenha uma Paris encantadora, colorida e cheia de gente amável - e aí ficou a impressão de que foi essa a Paris que eu vi no sábado passado.
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Mesmo o metrô é tão bonitinho e colorido em Amélie. |
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Estação de metrô parisiense na vida real.
Elas todas têm um agradável aroma de xixi. |
Se bem que as entradas das estações de metrô daqui podem ser muito interessantes.
Mas vamos à viagem.
Começamos pelo Arco do Triunfo - que foi, inesperadamente, o meu lugar preferido em Paris.
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Avenida Champs-Elysées e o Arco do Triunfo. |
O Arco fica em uma praça que parece "ilhada" no meio de ruas larguíssimas, com uma mureta de correntes em seu torno, sem sinaleiros, com carros passando sem parar. Como fazer para atravessar?
E aí um casal de velhinhos orientais, já que velhinhos já viram tudo na vida e não têm mais medo de nada, simplesmente se deram o braço e se puseram a lentamente atravessar a rua. Oras, quem teria coragem de atropelar um casal de velhinhos? Peguei o Edu pelo braço e me pus a segui-los bem de perto, como se fossem nosso escudo pessoal. E não é que funcionou? Levamos apenas uma buzinada de algum parisiense infeliz, chegamos os quatro bem sãos e salvos.
(Só na volta percebemos que tinha um túnel subterrâneo para atravessar a avenida. Oups!)
Dentro do Arco, temos vários memoriais de franceses que perderam a sua vida na guerra.
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"Aqui jaz um soldado francês morto pela pátria"
(1914 - 1918: Primeira Guerra Mundial) |
O Edu estava comigo e me explicou muitas coisas sobre a história, as guerras, as coisas que foram vividas. Acabei melancólica e pensativa. Como a guerra é triste... Nós, que temos a felicidade de não conhecermos a guerra, temos a sorte de ter uma leveza de espírito natural, quase que inocente; já eles têm esta chaga permanente, uma dor transmitida de geração em geração.
Também haviam várias outras placas, com datas marcantes e históricas. Havia um discurso do General Charles de Gaulle quando a França perdeu as batalhas da Segunda Guerra; havia as datas da Proclamação da República (04/09/1870) e da devolução da Alsácia e da Lorena à França (11/11/1918) e inúmeros memoriais, a pessoas, a batalhas e a cidades.
O Arco do Triunfo é um grande memorial à guerra, às suas dores e conquistas e aos seus perdedores - uma guerra não tem vencedores. Foi marcante.
Bom, um parêntese: aí vai uma foto tirada de dentro do Arco.
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Onde estamos: Tóquio, Pequim ou Chinatown? |
Não estou exagerando: dentro daquela praça, não vi *uma* pessoa que não tivesse olhos puxados. Depois de um tempo perplexa, comecei a sondar, rodear a praça em busca de alguém com olhos não-puxados, sem sucesso.
O Edu me disse os asiáticos, especialmente os japoneses, têm uma espécie de fixação por Paris - tem inclusive
réplicas da Torre Eiffel em várias cidades da China e Japão - e muitos sonham em conhecê-la. Mas realmente, foi perplexante. Não sei se foi porque era cedo (chegamos em Paris às 7h e fomos direto ao Arco) ou se foi porque eles são apaixonados por esse monumento, ou por qualquer outra razão - mas os outros lugares que visitamos em Paris tinham uma taxa mais "normal" de olhos puxados.
Aí andamos um pouco pela Avenida Champs-Elysées
(não vi nada de especial nela) e decidimos pegar o metrô. Descemos na Praça da Concórdia:
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Nada de especial a se ver por aqui, mas a vista era bonita. |
E aí seguimos pelo
Jardin des Tuileries, que é bastante agradável.
Uma coisa que eu adorei no Jardim foram as estátuas de deidades romanas que temos no centro do parque. Uma mais épica do que a outra!
Seguindo o caminho, de frente ao museu do Louvre, encontramos um mini Arco do Triunfo! E, de fato, descobri mais tarde que se trata do
Arc de Triomphe du Carrousel. Pois é, os franceses gostam de lembrar os seus triunfos.
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A quantidade de detalhes gravados é surpreendente. |
E chegamos ao Louvre! Por recomendação de minha chefe, resolvi tirar uma daquelas fotos clichês de turista. E não é que deu quase certo?
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Porque a graça de ser turista está em ser clichê. |
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Louvre! |
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Mimimi |
Não entramos porque tínhamos um dia curto, voltaríamos para casa dentro de 4 horas e ainda faltava ver a
Pont des Arts e a torre Eiffel. Pois é, ver a Mona Lisa acabou ficando pra um outro dia.
(Na verdade, nem ligo pra Mona Lisa... só não contem para ela.)
Continuamos andamos e seguindo o nosso caminho até a
Pont des Arts.
Acredito que esta ponte seja um tanto desconhecida, não havia muitos turistas por lá; mas é um lugar muito bonito e romântico para se visitar. Trata-se de uma ponte sobre o rio Sena em que os casais colocam cadeados como ato de prova de amor eterno.
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O cadeado que mais me cativou:
"Dedicado a todos aqueles que fizeram do mundo um lugar melhor
e a todos aqueles que nunca tiveram a chance de dizer Obrigado ♥" |
Vem gente do mundo inteiro colocar cadeados aqui. A visão de longe é impressionante, temos a impressão que é uma ponte com ornamentos estranhos dourados.
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Pont des Arts de longe |
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E aí, mais de perto percebemos que esses ornamentos são sim todos cadeados. :o |
Tinha uma moça por lá tocando acordeão. Incrível como alguém tocando música em um lugar público pode transformar um simples passeio em algo mágico, completo, significativo. Posso me esquecer da ponte, mas não vou esquecer que lá tinha uma moça tocando acordeão. E ela ainda tocou uma música do Yann Tiersen, da trilha sonora da Amélie. ♥
A gente tinha ido para a ponte, claro, determinado em colocar o nosso cadeado. Mas aí chegamos lá e vimos que certas grades estavam vazias; eles claramente removiam os cadeados de tempos em tempos. Refletimos, refletimos e decidimos não colocar coisa nenhuma por lá. Foi quase que rebelde, visitar a
Pont des Arts e ir embora sem deixar um cadeado. Super legal.
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Por que ser mais um no meio de tantos? |
É muito linda a vista do Rio Sena de lá. Por vezes passam por lá barcos de turistas, e eu encontrei um de brasileiros, vejam só! Anunciavam em português o que tinha a se ver por lá.
Depois de 15 dias praticamente só falando francês (e raramente inglês), bateu a saudade da minha língua materna. Como o português é lindo...!
Depois de atravessar praticamente toda Paris a pé, tendo dormido menos de 5 horas e acordado cedíssimo, estávamos morrendo; e ainda, a fome começou a bater. Hora de achar um lugar em Paris em que fosse possível comer sem precisar vender um rim. E até que deu certo. Encontramos uma loja oriental em que compramos o
panini mais caro de nossas vidas, mas que ainda nos deixou com trocados suficientes no bolso para um
crêpe!
Descemos para comprar nosso
crêpe, à beira do Rio Sena. E lá encontramos uma... praia. Gente, fiquei com dó dos europeus, eles montam praias em cidades! O Edu me disse que uma cidade precisa ser bastante rica para querer gastar dinheiro com isso. E eu fiquei sem entender qual a graça de tomar banho de sol fraco (ou de nuvens) e de se sujar na areia sem poder tomar banho de mar, em um lugar que cheira a xixi.
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Paris Plages |
Pois é, Paris cheira a xixi. Talvez seja só a parte turística da cidade, mas é fato que a Paris que eu conheci tem somente um aroma, e por onde íamos esse odor nos perseguia. Mas não é tão ruim assim, depois de duas ou três horas, você acaba se acostumando.
Fiquei encantada com a maneira pela qual se fazem os
crêpes: eles têm uma chapa quente em formato redondo e um tipo de espátula especial para espalhar a massa em forma redonda. Ah, detalhe: os
crêpes franceses não têm nada a ver com aqueles crepes que conhecemos no Brasil! Eles são uma grande e fina panqueca redonda, recheada geralmente com alguma coisa doce, como Nutella, frutas ou geleia.
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A menina dos crêpes estava meio enfezada, mas na hora da foto ela
se divertiu e soltou um sorriso involuntário. Para turista inglês ver! |
Por fim, faltava só mais uma coisa para ver: a torre Eiffel.
Só que aí a viagem começou a ficar difícil. Eu não aguentava mais de cansaço, não conseguia nem mais andar. Eram duas da tarde e teríamos 1h45 para ver a torre e voltar à Estação. Acabamos pegando uns três ônibus diferentes e atravessando a cidade (e dormindo durante o trajeto, claro) antes de chegar à torre. E realmente foi ótimo, fiquei reanimada para a parte final da viagem.
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Estátua na frente de um ponto de ônibus |
De tanto ver a torre ao fundo dos lugares que visitávamos, já estava acostumada com ela. De longe, eu me perguntava por que diabos ela era tão famosa. Ela não passava de um monumento de aço, e desde quando o aço é bonito?
Mas à medida que nos aproximávamos, ela ia aumentando, aumentando, aumentando... minha nossa, que troço gigante! Acho que finalmente entendi o significado da palavra impressionante.
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De longe, turistando |
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No caminho |
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De perto, mal dava para enxergar seu topo, tão grande que era esse troço. |
Fiquei super impressionada. Legal, três fotos tiradas e estava na hora de correr, faltavam 45 minutos para pegar o trem, que ficava do outro lado da cidade.
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A adorável escadaria do monumento Trocadéro é muito mais
divertida (e traumatizante) quando você tem pressa. |
Perguntamos ao rapaz que trabalhava nas colossais filas para entrar na torre, e ele disse que poderíamos atravessar a rua e pegar o metrô lá, em vinte minutos estávamos na estação. Lindo, chegaríamos uns 5 minutos adiantados para pegar o trem.
Seria mais lindo se ele tivesse explicado que "atravessar a rua" na verdade significava atravessar uma rua, andar duas quadras, atravessar outra rua, depois passar por uma ponte do rio Sena, escalar o monumento do
Trocadéro com suas milhões de escadas e andar ainda mais um pouco, em quase um quilômetro de trajeto.
Ah, claro, depois de pegar o metrô, teríamos que trocar de linha, e ainda correr mais uns 800 metros até finalmente chegar na estação de trem. Ainda precisaríamos achar a nossa plataforma para embarcar.
Tínhamos 40 minutos. Bem, façamos as contas:
15 minutos
(trajeto Torre Eiffel-metrô, em corrida desesperada)
+ 5 minutos
(espera e troca de linhas do metrô)
+ 20 minutos
(trajeto de metrô)
+ 5 minutos
(corrida desesperada até a gare)
+ 2 minutos (achar a nossa plataforma do trem e embarcar)
47 minutos = ferrou
Perder o trem seria uma tragédia: compramos um bilhete promocional (30 euros ida e volta) e não poderíamos trocar, o que provavelmente significaria bilhetes comprados em cima da hora por 78 euros por pessoa e duas horas de espera na gare. Bateu o desespero.
Já ouviram falar de como a maratona foi criada? Contam que um soldado correu a Planície de Marathónas até Atenas, cerca de 40 km, para levar uma notícia de guerra urgente. Correu tanto e tão intensamente que, ao chegar na cidade, morreu.
É, acho que entendi pelo que ele passou.
Mas não, nem tudo estava perdido! Não sei como fizemos, mas um milagre aconteceu e chegamos na estação e embarcamos no trem um minuto antes da hora da partida! Eu conseguia ouvir ao fundo uma multidão, emocionada em palmas com a nossa vitória. E aí entendi que pelo menos o soldado da maratona morreu feliz e em glória. Missão cumprida.
O nosso trem teve o desaforo de atrasar a partida em dois minutos, mas estávamos felizes, sãos e salvos. E não precisa nem dizer que, após uma jornada tão épica, os heróis da história passaram a viagem inteira dormindo.
E
voilà, pelo menos já posso dizer que conheço Paris!